Vamos revisitar o artista sul coreano Do-Ho-Suh, que desenvolve trabalhos utilizando tecidos e estruturas metálicas, e arames.
Apesar de não haver uma tradição em torno da utilização de tecidos e arames na cultura coreana, podemos de certa forma traçar alguma distante relação entre os resquícios da pintura Song na versão coreana, com a desmaterialização de suas obras de arte, se considerarmos como ponto de partida, as questões históricas e puramente visuais. Porém, o resultado como obra de arte realmente contemporânea, é a conquista do efeito da diluição da realidade em si, especialmente, das coisas materiais que nos cercam. Não são apenas efeitos visuais tolos. Levantam questões sobre a fragilidade e a efemeridade da vida contemporânea, tão sem chão ou qualquer solidez - ao contrário dos séculos ou milênios que a precederam. Nunca antes, é possível, valores e idéias duraram tão pouco e tiveram tão pouco peso quanto o período entre os anos 50 e 2030 - onde provavelmente estaremos apreciando uma poderosa retomada de valores tradicionais ou clássicos.
Em forma de lista, aqui vai um roteiro sobre as questões levantadas por Do-Ho Suh:
1) A desmaterialização da escultura e a fragilidade dos bens físicos em relação ao consumismo e à ilusão que se instauram na vida cotidiana, especialmente em termos de conquistas, permanências e a busca por satisfação.
2) A imitação do simulacro computacional, ao inverter novamente o vetor de importância entre o que é real e o que é imaginário ou potencial, desafia as percepções convencionais de realidade. Essa inversão reavalia a hierarquia entre o que é concreto e o que é virtual, abrindo espaço para que o imaginário se manifeste com uma potência que o aproxima do real. Essa dinâmica, ao expandir o campo do que entendemos como realidade, revela novas camadas de sentido e possibilidades que antes permaneciam latentes, criando uma simbiose onde o virtual e o concreto se entrelaçam de forma ativa e presente.
3)O desdobramento do panóptico – com suas máquinas de vigilância, o icônico Big Brother americano e a exposição visceral da vida íntima nas redes sociais – revela uma dinâmica em que o ato de observar e ser observado se torna parte integral da experiência cotidiana. Essa transformação na vigilância social moderniza o conceito original de controle, expandindo-o para além do espaço físico e criando uma nova forma de panoptismo digital. Agora, a vigilância é consensuada e, muitas vezes, desejada, onde as pessoas, ao exporem aspectos íntimos de suas vidas, alimentam e reforçam esse sistema. As mídias sociais, por sua vez, tornam-se palco de uma vigilância mútua, onde a privacidade é constantemente negociada, gerando uma forma de controle difuso que transcende a antiga lógica de opressor e oprimido.
4) A simples imitação mercadológica em nível imagético, impulsionada pelos programas de modelagem 3D, constrói uma sociedade que se fundamenta nessa premissa tecnológica. A representação visual passa a rivalizar com o real, criando uma cultura onde o valor das coisas é medido pela qualidade da simulação, moldando o que é percebido como autêntico.
5) O agigantamento das forças sociais externas – incluindo a ocidentalização do Oriente, o comunismo e a consequente redução da individualidade oriental – coloca a vida cotidiana e singularmente individual à beira do abismo, como exemplificado pela "casa da borda". Esse processo revela uma tensão onde a intimidade e as tragédias pessoais são expostas, subjugadas por ideais coletivos e pela imposição de valores externos. Assim, a singularidade do indivíduo oriental é comprimida em meio a forças que transformam o privado em público, aproximando a experiência pessoal de um limite que ameaça o próprio sentido de identidade.
Tais elementos não são evidentes à primeira vista nesta linha de trabalho, mas, ao cruzar sua subjetividade com outros projetos, torna-se clara sua postura crítica sócio-política e também lúdica, subvertendo o peso da verdade para a leveza de um simulacro tecnológico, simulado pelo que é não-tecnológico.
Aprecie algumas imagens captadas na internet. Este post não aborda especificamente suas miniaturas de figuras oprimidas: Do-Ho Suh, um artista do pós-simulacro.
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